No último número da Anestesia em Revista há um artigo do Prof. Dr. Mário J. Conceição que trata da agitação no despertar da anestesia geral em pacientes pediátricos (Conceição J.M.; Agitação no despertar da anestesia em crianças. Anestesia em Revista, Ano 60, nr. 05, Out/Nov/Dez 2010).
O Dr. Mário é conhecido pelas inúmeras participações em congressos e jornadas (já esteve várias vezes aqui em Passo Fundo) e por suas contribuições científicas em especial na área da anestesia pediátrica. Além de outros fazeres é médico anestesiologista do Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis, Santa Catarina e portanto conhecedor do assunto em epígrafe.
Relata, no artigo, as várias formas com que essa agitação se manifesta tenta inclusive dar sentido à essa expressão.
"Essa agitação ocorre nos primeiros 30 min da recuperação, é autolimitado (de 5 a 15 min) e, na maioria das vezes, se resolve de forma espontânea".Uma das observações que ele faz é justamente sobre o halothano que muitos consideram o anestésico ideal para as anestesias pediátricas, tanto na indução inalatória (o nível profundo de anestesia era atingido rapidamente) quanto no despertar mais suave porque prolongado.
Assim, atualmente temos que analisar o papel da anestesia nessa agitação.
O sevoflurano, por suas características farmacológicas, tornou-se o principal anestésico inalatório utilizado na indução e manutenção da anestesia em crianças e é também o vilão quando se fala em agitação.
Me permito transcrever aqui o que o Dr. Mário escreveu no seu artigo:
"A agitação no despertar de pacientes pediátricos está longe de uma solução definitiva. Porém, alguns fatos são conhecidos:
- dor, despertar muito rápido, ansiedade, tipo de temperamento da criança e tipo de procedimento cirúrgico são fatores associados, mas não necessariamente desencadeantes;
- os recursos farmacológicos tradicionais apresentam resultados controversos (propofol, midazolan e cetamina);
- sevoflurano, isoflurano e desflurano excitam os centros no SNC liberadores de noradrenalina, promovem despertar rápido e têm baixo poder anestésico (analgésico);
- alfa-2 agonistas serão os fármacos mais indicados no controle do problema?
Percebe-se que mesmo os que lidam com esse problema no dia a dia ainda não tem uma opinião definitiva.
Gostaria de meter a minha colher nesse assunto.
Na minha opinião a dexmedetomidina está sendo sub-utilizada na anestesia pediátrica no nosso meio. São inúmeros os benefícios que essa medicação trás em especial nas cirurgias de grande porte (ortopédicas principalmente).
A sonolência e a analgesia características da medicação permitem um pós-operatório imediato tranquilo, sem dor para a criança e sem sofrimento para a mãe e familiares.
Um bom artigo sobre isso (e que está relacionado na bibliografia usada pelo Dr. Mário) é:
- Guler G, Akin A, Tosun Z et al. Single-dose dexmedetomidine reduces agitation and provides smooth extubation after pediatric adenotonsillectomy. Pediatr Anesth, 2005; 15:762-766.
A clonidina, também alfa-2 agonista, teria o mesmo efeito da dexmedetomidina? Está ai uma questão para ser pesquisada.
Acredito que se orientarmos os familiares de forma adequada tanto sobre a sonolência quanto ao fato de que a criança pode ser despertada para ser alimentada poderemos ter menos agitação nos pós anestésico.
O que vocês acham?
Abraços,
Lorenzini
P.S.: Declaro não ter conflito de interesses sobre esse assunto. Declaro também que reproduzo parte do artigo do Prof. Dr. Mário Conceição com a intenção de tentar amplificar a repercussão desse seu artigo.
Eu uso bastante a clonidina (2 mcg/kg) no P.O. imediato de cirurgias pediátricas e acho uma excelente medicação quando assaciada com outros analgésicos (dependendo do procedimento cirúrgico) para amenizar esse problema sem necessitar da bomba de infusão que pode ser um transtorno tanto para a criança quanto para a Mãe.
ResponderExcluirAbraço.
João Manuel.
João, uma boa dica para todos nós!
ResponderExcluirValeu o comentário.
Lorenzini