segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Agitação no despertar da anestesia em crianças


No último número da Anestesia em Revista há um artigo do Prof. Dr. Mário J. Conceição que trata da agitação no despertar da anestesia geral em pacientes pediátricos (Conceição J.M.; Agitação no despertar da anestesia em crianças. Anestesia em Revista, Ano 60, nr. 05, Out/Nov/Dez 2010).
O Dr. Mário é conhecido pelas inúmeras participações em congressos e jornadas (já esteve várias vezes aqui em Passo Fundo) e por suas contribuições científicas em especial na área da anestesia pediátrica. Além de outros fazeres é médico anestesiologista do Hospital Infantil Joana de Gusmão em Florianópolis, Santa Catarina e portanto conhecedor do assunto em epígrafe.
Relata, no artigo, as várias formas com que essa agitação se manifesta tenta inclusive dar sentido à essa expressão.
"Essa agitação ocorre nos primeiros 30 min da recuperação, é autolimitado (de 5 a 15 min) e, na maioria das vezes, se resolve de forma espontânea".
Uma das observações que ele faz é justamente sobre o halothano que muitos consideram o anestésico ideal para as anestesias pediátricas, tanto na indução inalatória (o nível profundo de anestesia era atingido rapidamente) quanto no despertar mais suave porque prolongado.

Assim, atualmente temos que analisar o papel da anestesia nessa agitação.

O sevoflurano, por suas características farmacológicas, tornou-se o principal anestésico inalatório utilizado na indução e manutenção da anestesia em crianças e é também o vilão quando se fala em agitação.

Me permito transcrever aqui o que o Dr. Mário escreveu no seu artigo:

"A agitação no despertar de pacientes pediátricos está longe de uma solução definitiva. Porém, alguns fatos são conhecidos:
  • dor, despertar muito rápido, ansiedade, tipo de temperamento da criança e tipo de procedimento cirúrgico são fatores associados, mas não necessariamente desencadeantes;
  • os recursos farmacológicos tradicionais apresentam resultados controversos (propofol, midazolan e cetamina);
  • sevoflurano, isoflurano e desflurano excitam os centros no SNC liberadores de noradrenalina, promovem despertar rápido e têm baixo poder anestésico (analgésico);
  • alfa-2 agonistas serão os fármacos mais indicados no controle do problema?
A anestesia desses nossos dias parece ter intensificado o problema, mas também busca e apresenta possíveis soluções. A fila anda."

Percebe-se que mesmo os que lidam com esse problema no dia a dia ainda não tem uma opinião definitiva.
Gostaria de meter a minha colher nesse assunto.
Na minha opinião a dexmedetomidina está sendo sub-utilizada na anestesia pediátrica no nosso meio. São inúmeros os benefícios que essa medicação trás em especial nas cirurgias de grande porte (ortopédicas principalmente).

A sonolência e a analgesia características da medicação permitem um pós-operatório imediato tranquilo, sem dor para a criança e sem sofrimento para a mãe e familiares.

Um bom artigo sobre isso (e que está relacionado na bibliografia usada pelo Dr. Mário) é:
  • Guler G, Akin A, Tosun Z et al. Single-dose dexmedetomidine reduces agitation and provides smooth extubation after pediatric adenotonsillectomy. Pediatr Anesth, 2005; 15:762-766.


A clonidina, também alfa-2 agonista, teria o mesmo efeito da dexmedetomidina? Está ai uma questão para ser pesquisada.
Acredito que se orientarmos os familiares de forma adequada tanto sobre a sonolência quanto ao fato de que a criança pode ser despertada para ser alimentada poderemos ter menos agitação nos pós anestésico.
O que vocês acham?
Abraços,
Lorenzini

P.S.: Declaro não ter conflito de interesses sobre esse assunto. Declaro também que reproduzo parte do artigo do Prof. Dr. Mário Conceição com a intenção de tentar amplificar a repercussão desse seu artigo.

2 comentários:

  1. Eu uso bastante a clonidina (2 mcg/kg) no P.O. imediato de cirurgias pediátricas e acho uma excelente medicação quando assaciada com outros analgésicos (dependendo do procedimento cirúrgico) para amenizar esse problema sem necessitar da bomba de infusão que pode ser um transtorno tanto para a criança quanto para a Mãe.
    Abraço.
    João Manuel.

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  2. João, uma boa dica para todos nós!
    Valeu o comentário.
    Lorenzini

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